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Aula sobre o Barão do Rio Branco

Nesta proposta de aula sobre o Barão do Rio Branco, o professor de história encontra uma opção para trabalhar as principais mudanças diplomáticas da República Velha.
O Barão do Rio Branco foi Ministro das Relações Exteriores do Brasil de 1902 a 1912
O Barão do Rio Branco foi Ministro das Relações Exteriores do Brasil de 1902 a 1912
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  • Importância da figura de Barão do Rio Branco

Quando se ministra aulas sobre o período da República Velha no Brasil, fala-se muito pouco da política externa que foi empreendida à época por grandes diplomatas, como José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), o Barão do Rio Branco. Seria de grande relevância dar uma atenção especial a esse personagem nas aulas sobre esse período histórico brasileiro, pois sua atuação como Ministro das Relações Exteriores foi importantíssima para estreitar relações diplomáticas do Brasil com os Estados Unidos e definir as atuais fronteiras nacionais sem que o país precisasse entrar em guerra com as nações vizinhas da América do Sul.

Assim sendo, oferecemos ao professor de história uma proposta de aula sobre o Barão do Rio Branco que leva em conta o seguinte tema: o deslocamento do eixo diplomático brasileiro da Europa para os EUA.

  • De Cônsul do Império a Ministro da República

O Barão do Rio Branco cresceu, podemos dizer, no berço da diplomacia. Seu pai, José Maria da Silva Paranhos, era o Visconde do Rio Branco, famoso diplomata do Segundo Império que se destacou por resolver alguns dos impasses decorrentes do fim da Guerra do Paraguai. Seguindo o caminho do pai, Rio Branco também se enveredou na diplomacia, tendo em 1876 ido representar o Brasil em Liverpool, na Inglaterra, no cargo de cônsul. Nessa época, a Inglaterra era ainda o principal parceiro econômico e militar do Brasil.

Quando veio a Proclamação da República, em 1889, Rio Branco ainda permaneceu com o mesmo cargo no mesmo país até 1893, quando foi convocado pela República para retornar ao país natal. A Rio Branco foi oferecido, em 1902, o Ministério das Relações Exteriores. O diplomata aceitou o cargou, no qual permaneceu por 10 anos. No tempo em que esteve à frente do Ministério, Rio Branco conseguiu resolver o problema da fronteira oeste do Brasil, sobretudo na região do atual estado do Acre, que também era reivindicado pela Bolívia – que, assim como o Brasil, explorava borracha nos seringais da região.

A questão do Acre foi resolvida por Rio Branco por meio do Tratado de Petrópolis, de 17 de novembro de 1903, por meio do qual o governo brasileiro comprou o território acriano da Bolívia sem precisar entrar em guerra contra o país.

  • A questão do Pan-americanismo

O mais instigante na figura de Rio Branco foi sua percepção da transformação geopolítica do início do século XX, época da intensificação das rivalidades entre as grandes potências europeias. O Império Inglês, que Rio Branco acompanhou de perto, estava gastando bastante tempo e dinheiro em guerras locais que ocorriam em suas colônias na Ásia e na África. Além disso, não demoraria muito para estourar a Primeira Guerra Mundial.

Antevendo a catástrofe europeia, Rio Branco promoveu uma intensa aproximação com os Estados Unidos, que nessa mesma época apresentavam-se, sob a liderança do presidente Theodore Roosevelt, como uma grande potência alternativa àquelas da Europa. Além disso, Roosevelt era simpático do pan-americanismo da Doutrina Monroe, que previa um bloco geopolítico integrado no continente americano.

A melhor “ferramenta” utilizada por Rio Branco nesse deslocamento diplomático da Europa para os EUA foi Joaquim Nabuco. Assim como Rio Branco, Nabuco era um aristocrata e diplomata do Império que, com o colapso deste, continuou prestando os seus serviços para a República. Quando Rio Branco foi nomeado Ministro das Relações Exteriores, Nabuco, que era partidário do pan-americanismo, foi feito embaixador do Brasil em Washington, capital dos EUA.

  • Proposta de aula

A ideologia pan-americanista foi fundamental para a diplomacia brasileira dessa época. O professor pode valer-se dos artigos publicados na Revista Americana (cuja produção inteira foi publicada pela Editora do Senado Federal), que durou de 1909 a 1919 e foi o grande veículo de discussão sobre o pan-americanismo. Nessa revista, há artigos de intelectuais e diplomatas de todo o continente americano. O professor pode selecionar trechos de articulistas de nacionalidades diferentes e mostrar aos alunos como cada país via-se diante dos EUA naquela época.

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É possível também que professor de história utilize trechos das cartas que Joaquim Nabuco escreveu tanto para Rio Branco quanto para os presidentes à frente da República brasileira à época sobre os trâmites diplomáticos entre o Brasil e os EUA. Em uma carta ao presidente Afonso Pena, por exemplo, datada de 1905, Joaquim Nabuco coloca-se à disposição do presidente para que este, se quiser, retire-o do posto de embaixador nos EUA. Vejamos:

Você me encontrará neste posto, e eu não sei se lhe devo pedir que me deixe nele. Isso dependerá da sua política. Se esta for francamente americana, no sentido de uma inteligência perfeita com este país eu terei grande prazer em ser seu colaborador nele. Se você, porém, não se resolver por esta escolha, talvez fosse melhor não ter aqui um monroista tão pronunciado como eu porque não convém iludir os americanos. Então você poderia mandar-me para algum posto onde eu não trabalhasse em vão (NABUCO, Joaquim. Cartas a Amigos. São Paulo: Instituto Progresso Editorial: vol II, pág. 230.)

Nabuco sabia que era pública e notória a sua posição em prol do pan-americanismo e do “monroísmo” (referente à Doutrina Monroe) e que, se houvesse muitos aliados do presidente Pena que se opusessem a tal ideologia, seria melhor retirá-lo do cargo.

Outra dica valiosa seria explorar as opiniões, presentes tanto em cartas quanto em artigos da Revista Americana e de jornais da época, do também diplomata Oliveira Lima, que foi embaixador na Venezuela e era um crítico ferrenho do pan-americanismo, chegando a romper relações pessoais com Rio Branco e Joaquim Nabuco por causa desse assunto. No livro O Pan-americanismo (publicado pela Editora do Senado Federal), Lima reuniu as principais produções sobre esse assunto. Vejamos um trecho de um dos artigos em que critica o presidente americano Theodore Roosevelt:

(...) [O] Presidente Roosevelt, na sua última mensagem ao Congresso, [afirmou] que as repúblicas americanas que faltassem aos seus compromissos não poderiam ser protegidas contra as consequências da deslealdade evidenciada no cumprimento das suas obrigações internacionais. A doutrina chamada de Monroe cabe no entanto tão bem à América do Sul quanto à do Norte e não pode ser privilegio desta, que não recebeu da outra delegação de soberania nem procuração de defesa. Os Estados Unidos só exercerão, aliás, a defesa quando para isso forem convidados, ou a incapacidade do agredido for de ordem tal que dispensar o apelo. Ninguém espera para valer a um homem ferido de morte que ele clame por socorro: pode acontecer que nem forças tenha para gritar. O proceder nestes casos é ditado pelo egoísmo ou altruísmo do que intervém. (LIMA, Manuel de Oliveira. Pan-Americanismo (Monroe, Bolívar, Roosevelt). (1ª ed. de 1907). Brasília: Senado Federal; Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa, 1980, pág. 27-28.)

É possível perceber que Lima fica reticente quanto às exigências que são feitas pelo líder dos EUA às demais nações do continente para que elas recebessem o “devido apoio”, principalmente de caráter militar. Lima desconfiava de que o pan-americanismo pudesse cercear a soberania e o próprio desenvolvimento das outras nações americanas.

Estes são alguns dos muitos exemplos que podem ser adotados e trabalhados nas aulas.

*Créditos da imagem: Shuttersotck e Georgio Kollidas


Por Me. Cláudio Fernandes