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Oficina de História: entendendo o trabalho do historiador

Uma oficina de História pode ser uma boa alternativa para que o aluno realize o trabalho de um historiador por meio da investigação e análise de um objeto no tempo.
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Uma oficina de História pode ser uma boa alternativa para que o aluno realize o trabalho de um historiador por meio da investigação e análise de um objeto no tempo. Analisar o passado e entender a evolução histórica da humanidade são habilidades que o aluno deve desenvolver nas aulas de História, bem como entender como se dá a produção de conhecimento no ofício do historiador.

Para isso, a proposta de uma oficina em quatro etapas pode ser um meio interessante para que o aluno possa desenvolver essas competências e é essa atividade que vamos sugerir neste texto.

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Obs.: Esta proposta pode ser realizada presencialmente em sala de aula, mas também à distância, permitindo que os alunos se reúnam por meio de videoconferência.

O aluno e o trabalho do historiador

Trabalhar com a disciplina de História atualmente requer do professor mais do que a realização de aulas explicativas e da utilização do quadro e do livro didático. É necessário estar sempre atento às novas metodologias e abordagens a serem realizadas sobre o conhecimento histórico em sala de aula.

Sabemos que o papel do professor de História é servir como guia nesse processo de aprendizagem do aluno e, portanto, ele deve cumprir o seu papel de garantir o desenvolvimento de habilidades nos alunos para que eles consigam analisar o passado e desenvolvam a capacidade de compreensão da realidade que ele vive e dos processos que nossa sociedade enfrenta.

É importante que o aluno consiga analisar o passado, mas também é fundamental que ele entenda como se dá o processo de produção do conhecimento.
É importante que o aluno consiga analisar o passado, mas também é fundamental que ele entenda como se dá o processo de produção do conhecimento.

Além disso, além de aprender a respeito do passado, é importante que os alunos entendam como é realizado o levantamento de conhecimento sobre o passado, qual são os métodos utilizados nesse processo e como é possível fazer uma análise a respeito daquilo que está sendo estudado. Cabe ao professor oportunizar isso, pois tão importante quanto conhecer o passado é entender como ele é reconstruído pelo trabalho do historiador.

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Oficina de História

O objetivo deste texto, portanto, é trazer uma pequena proposta de realização de uma oficina na qual os alunos devem realizar uma atividade de análise e montagem de sentido para uma narrativa explicativa sobre os objetos que forem estipulados pelo professor. Assim, podemos levantar quatro grupos como objetos de análise:

  • Mulher

  • Índio

  • Negro

  • Trabalhador

Cada um desses temas pode ser trabalhado historicamente em um grupo específico de alunos. Sendo assim, pode-se dividir a turma em vários grupos, e cada um deles abordará um dos assuntos apresentados acima. Caso o professor prefira, ele pode estipular apenas um tema para todos os grupos, bem como expandir essa proposta, inserindo novos objetos para análise.

A oficina pode ser uma boa ferramenta para permitir a aquisição das habilidades necessárias para a análise do passado.
A oficina pode ser uma boa ferramenta para permitir a aquisição das habilidades necessárias para a análise do passado.

O objetivo, como mencionado, é colocar os alunos em uma perspectiva de realizar o trabalho de um historiador. O aluno será colocado em uma situação na qual ele deve analisar as pistas dadas pelo professor e, por meio da análise e da pesquisa, deve dar um sentido ao que está sendo estudado. Para exemplificar como a proposta deve ser conduzida, usaremos como exemplo o grupo “mulher”.

  • passo: identificar o objeto

No primeiro encontro, o professor pode apresentar uma imagem que trate do objeto de análise. O ideal é que o objeto não seja indicado para o aluno, mas que ele se esforce para que, por sua própria iniciativa, possa fazer essa identificação. Sugerimos o uso desta imagem:

Pintura de Johann Jakob Wick, clérico suíço do século XVI. A pintura é do ano de 1585.[1]
Pintura de Johann Jakob Wick, clérico suíço do século XVI. A pintura é do ano de 1585.[1]

Essa pintura traz três mulheres sendo queimadas em uma fogueira. Como sabemos, essa foi uma prática comum na Europa durante a Idade Média e Idade Moderna. Os Tribunais da Santa Inquisição impuseram um regime de terror que perseguiu, torturou e matou milhares de mulheres no continente europeu sob a justificativa de que eram “bruxas”. Não se sabe ao certo quantas morreram por causa dessa perseguição.

O papel do aluno ao receber a imagem é analisá-la, explicando o que ela aparentemente reproduz, além de indicar o objeto de análise que ele acredita estar sendo proposto. Aqui não devemos nos preocupar se ele acertará ou não a análise e a indicação do objeto, pois o aluno terá exclusivamente a imagem como fonte; nas próximas etapas, novas evidências deixarão isso claro.

De toda forma, perguntas devem ser feitas. O que a imagem representa? Quem você acredita que estamos analisando por meio dessa imagem? Esses são exemplos de questões que podem ser cobradas neste primeiro momento. O ideal é que a análise do aluno nesta e nas outras etapas seja registrada em texto. A partir disso, podemos partir para o segundo passo.

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  • 2º passo: evidenciar o objeto para o aluno por meio de alguma outra fonte

Neste passo, o papel do professor é trazer outro indício que deixe claro o que os alunos estão analisando. Como falamos da mulher e trouxemos uma imagem de três mulheres sendo queimadas, podemos fornecer um pequeno trecho do Malleus Maleficarum, conhecido como O Martelo das Feiticeiras e escrito por Heinrich Kramer e James Sprenger no final do século XV. Vejamos o trecho:

É um fato que maior número de praticantes de bruxaria é encontrado no sexo feminino. […] Da perversidade das mulheres fala-se no Eclesiástico, 25: “Não há veneno pior que o das serpentes; não há cólera que vença a da mulher. É melhor viver com um leão e um dragão que morar com uma mulher maldosa”. E entre o muito que, nessa passagem escriturística, se diz da malícia da mulher, há uma conclusão: “Toda a malícia é leve, comparada com a malícia de uma mulher”. […] A segunda razão é que as mulheres são, por natureza, mais impressionáveis e mais propensas a receber a influência do espírito descorporificado|1|.

Essa passagem é só um exemplo de fonte a ser utilizada, mas deve ficar claro para o aluno qual é o objeto de análise. O objetivo é que ela faça uma correlação direta com a imagem apresentada na primeira etapa. Além disso, caberá o trabalho de pesquisa do aluno para angariar informações a respeito do texto proposto, afinal o historiador durante esse ofício também se dedica a tal.

Veja algumas perguntas que podem ser realizadas ao aluno:

  1. Qual a relação da imagem com o trecho de texto analisado?

  2. Quem são os autores desse texto? Discorra sobre eles.

  3. Qual é o livro do trecho que lemos? Ele trata sobre o quê?

  4. Qual contexto histórico ele foi escrito?

A partir daqui podemos ir para o 3º passo.

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  • 3º passo: ampliando a visão e análise do aluno

Introduzimos o conteúdo sob o viés da inquisição e da perseguição à mulher por meio da “caça às bruxas”. Agora é a hora de entendermos a evolução do papel das mulheres ao longo da história. O ganho de direitos aconteceu, mas algumas permanências garantiram a continuidade de certas opressões e preconceitos contra as mulheres.

Assim, uma abordagem pode ser realizada sobre diferentes perspectivas. Pode-se abordar a conquista de espaço da mulher na política e no mercado de trabalho, que aconteceu de maneira lenta a partir do século XIX, por meio da luta das mulheres pelo sufrágio feminino e também pelo direito a uma melhoria salarial e redução de carga horária.

O paralelo a ser feito é mostrar que, enquanto essas lutas aconteciam e a mulher conquistava o seu espaço, a opressão mantinha-se de outras formas – sobre o corpo da mulher, por exemplo, sujeitando-a a um padrão estético opressor e a convenções sociais cruéis, tais como a normatização da ideia de que só a mulher é responsável pelo cuidado dos filhos, etc.

Essa ampliação da análise pode ser feita em dois momentos se o professor desejar, havendo uma análise da situação da mulher na passagem do século XIX para o XX e outra voltada exclusivamente para o século XXI. Um estudo da evolução das pautas do movimento feminista ao longo desse período pode ser também um norteador interessante nesta etapa.

  • 4ª etapa: conclusão do aluno

Esta etapa é o momento da finalização da oficina. Aqui o aluno deve concluir toda a análise realizada ao longo das três etapas. Isso pode ser feito por intermédio de uma produção na qual o aluno faça esse trabalho de contextualização histórica da situação da mulher no período analisado (da inquisição ao século XXI).

A produção textual pode ser acompanhada por uma produção audiovisual voltada para as redes sociais. Uma plataforma muito comum entre os adolescentes e que permite esse tipo de produção é o TikTok. Para a atividade, o professor pode exigir uma produção em que o aluno possa encenar todo esse processo histórico, mas de maneira simples e divertida.

A proposta pode envolver também o modelo de “stories” ou do “IGTV” do Instagram. Essa é uma forma mais divertida de os alunos finalizarem a oficina, além de permitir que eles possam assistir às produções feitas pelos outros colegas de sala e interagir sobre a sua experiência com a oficina.

Notas:

|1| KRAMER, Heinrich. O martelo das feiticeiras. Rio de Janeiro: BestBolso, 2015, p. 120-123.

Crédito da imagem:

[1] Commons

 

Por Daniel Neves Silva
Professor de História